quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O que é bom pra gripe?

O que é bom pra gripe?

Esta é uma das perguntas mais ouvidas por quem trabalha em farmácia. E este é um dos assuntos mais cheios de lendas, crendices e informações incorretas. Ou, simplesmente, falta de informação.

Gripes X Resfriados

Qual a diferença entre gripes e resfriados? A maioria das pessoas considera os dois como sinônimos, mas não são! A gripe é causada exclusivamente por um vírus denominado influenza. Seus sintomas são febre alta (próxima dos 40°C), mal-estar pronunciado, calafrios, dor de garganta, dores musculares, dores de cabeça, tosse seca e fadiga. A febre pode durar de 3 a 8 dias, e a remissão da doença ocorre entre 1 e 2 semanas.

Já o resfriado pode ser causado por um grande número de tipos de vírus, sendo o principal deles o rinovírus. Os sintomas costumam ser bem mais leves que os da gripe, e incluem febre baixa (ou ausência de febre), coriza (nariz escorrendo), espirros e tosse. A maioria esmagadora das vezes que você fala ou ouve alguém falar que está gripado, está na verdade resfriado.

Estou começando a ficar gripado. Tem algum remédio bom pra cortar a gripe?

Seria muito bom se tivesse! Na verdade, existe um medicamento que impede a multiplicação do vírus no corpo, mas que somente atua contra os vírus influenza, da gripe, e não tem ação alguma contra os vírus que causam o resfriado. Este medicamento é o Tamiflu (oseltamivir) que passou a ficar famoso após a epidemia do vírus H1N1 (um subtipo do vírus influenza). Até o momento, é o único medicamento que tem ação comprovada para “cortar” a gripe. Já no caso dos resfriados, a única coisa que pode ajudar é o Vick Primeira Proteção, que é um gel que se aplica dentro do nariz logo aos primeiros sintomas do resfriado, e acaba por englobar os vírus no local onde eles ficam incubados, inibindo sua multiplicação e fazendo com que a intensidade e duração dos sintomas seja reduzida.

Mas e os medicamentos antigripais? Servem pra quê, então???

Esta nomenclatura é infeliz (pra não dizer que é puramente comercial). A maioria dos antigripais contém, em sua fórmula, substâncias que combatem a dor e a febre, a coriza e a congestão nasal. Ou seja, combatem os principais sintomas das gripes e resfriados de uma vez. Repararam bem? Combatem os sintomas, e não os vírus!!! Mas você certamente tem um amigo que usou algum antigripal que foi “tiro e queda”. Pura coincidência! Ele estava resfriado, e teve uma melhora dos sintomas, parecendo que foi o medicamento que “cortou”. Volto a afirmar que estes medicamentos não têm NENHUMA ação contra os vírus e não “cortam” nada!

Vacina contra a gripe

Cansei de ver gente falando: “Tomei a vacina contra gripe e, olha, não adiantou nada! Estou gripado!”. Aiaiai... Acho que não preciso dizer mais nada, né? A esta altura, você já sabe que os vírus que causam gripes e resfriados são diferentes, e que a vacina atua somente contra os da gripe. E a pessoa em questão deve estar resfriada. Eu disse “deve”, porque nenhuma vacina tem 100% de eficácia, então esta pessoa pode estar com uma variante do vírus da gripe não coberta pela vacina.

Uso de antibióticos

Antibióticos servem para matar ou impedir o crescimento de bactérias. Gripes e resfriados são causados por vírus. Logo, antibióticos são ineficazes nestes casos. Simples assim! Mas tem gente que insiste em tomar antibióticos, e até injeções contra gripe que misturam diversas coisas a antibióticos (absurdo!). Bem, isso só contribuirá para o aparecimento de novas superbactérias (como a KPC)! Além de gastar dinheiro à toa. E mais uma vez, por que tem gente que disse que melhorou tomando antibiótico? Porque nos resfriados, a melhora é relativamente rápida (2-4 dias). Então, parece que foi o antibiótico que ajudou. Mas não foi! Mesmo que não tivesse tomado nada, já melhoraria sozinho. Os antibióticos só entram em ação após uma complicação da gripe, onde bactérias oportunistas aproveitam que o sistema imunológico está debilitado e provocam infecções.

Espero ter esclarecido um pouco algumas dúvidas sobre este assunto!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Superbactéria KPC

Há uma preocupação no Brasil com o surgimento e o aumento do número de casos de infecção pela superbactéria KPC. Que bactéria é essa?

A bactéria Klebsiella pneumoniae, uma enterobactéria, possui uma variante produtora de uma enzima que inativa a maioria dos antibióticos existentes, passando a ser resistente a eles. Esta variante passou a ser conhecida como Klebsiella pneumoniae Carbapenemase - KPC (apesar de este ser, na verdade, o nome da enzima produzida). Não há motivo para pânico, pois por enquanto, esta bactéria está restrita ao ambiente hospitalar, no Distrito Federal, mas já há suspeitas de casos em São Paulo e no Paraná. Ela também não é transmitida pelo ar, mas sim através de médicos, enfermeiros e outras pessoas em contato com pacientes infectados.

Mas a grande lição que tiramos desta história aparentemente nada tem a ver com ela. E você, seus parentes e seus amigos e vizinhos  também provavelmente têm culpa nisso! Por quê? Porque grande parte da população faz uso de antibióticos de forma errada. Como? Sempre que se toma antibióticos por tempo mais curto ou mais longo do que o prescrito, ou quando os tomamos sem a necessidade de usá-los, estamos contribuindo para o aparecimento de bactérias resistentes a eles. E vejo no dia-a-dia o quanto eles são usados de maneira totalmente errada. Vamos aos exemplos: muitas pessoas tomam antibióticos para qualquer tipo de dor de garganta. Entretanto, a maior parte dos casos, ela é causada por vírus, e não por bactérias, o que faz com que o antibiótico seja totalmente inútil nestes casos. Outro caso são as pessoas com dor de dente que insistem em tomar tetraciclina (Tetrex), e ainda pensam que trata-se de um anti-inflamatório ou analgésico. NÃO É!!! É um antibiótico, e portanto, deve ser usado somente nos casos onde a dor de dente esteja associada a uma infecção, e somente o dentista poderá indicar o uso de algum antibiótico. E esses são apenas alguns exemplos da maneira absurda de como se usam os antibióticos.

É provavel que tenha sido este o motivo pelo qual surgiu a superbactéria KPC.  Sempre que utilizamos antibióticos de modo incorreto, favorecemos o aparecimento de várias “superbactérias”. E certamente jamais gostaríamos de ver um ente querido no hospital, sofrendo, caminhando para a morte, porque a bactéria que está causando a infecção é resistente a todos os antibióticos disponíveis. Aí, não haverá mais o que ser feito. A não ser torcer por um milagre.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Gardenal é remédio para louco?


Essa é praticamente uma unanimidade! Você mesmo aí, responda: o famoso Gardenal é remédio pra quê? Se a resposta foi  “pra louco”, então você faz parte da maioria... Porém, a resposta está ERRADA! O famoso Gardenal (fenobarbital) é um medicamento utilizado para prevenir o aparecimento de convulsões em indivíduos com epilepsia ou crises convulsivas de outras origens, inclusive em animais. E convulsão não tem nada a ver com loucura!

Mas eu gostaria de saber por que surgiu esta crença. Será que os sintomas de convulsão antigamente eram confundidos como “loucura” por leigos? Ou por algumas reações adversas do medicamento, como dificuldade para falar e problemas de coordenação e equilíbrio, que também poderiam fazer com que os usuários do medicamento parecessem “loucos”. Bem, a verdade provavelmente nunca poderemos saber.

O fato é que o Gardenal NÃO é remédio pra louco!

Por que o medicamento ORMIGREIN, usado para tratamento de enxaqueca, sumiu do mercado?

Há alguns meses, o medicamento Ormigrein simplesmente desapareceu das farmácias e drogarias. Mas qual foi o motivo? 


Segundo o fabricante (MSD, que adquiriu a Organon),  "a distribuição e comercialização de ORMIGREIN está suspensa no mercado brasileiro por re-adequações necessárias para a renovação do registro do produto em virtude de requerimentos atualizados provindos da agência sanitária ANVISA."

O fabricante recomenda que "os pacientes que façam uso do medicamento procurem seus médicos para avaliar qual outro medicamento seria o mais adequado a sua condição. Somente o médico poderá avaliar a melhor alternativa para seu caso, com base em seu histórico clínico. A MSD espera retomar a comercialização do medicamento no futuro, no entanto, ainda não há previsão para regularização da comercialização."
E lembre-se: Não tome medicamento sem prescrição médica; pode fazer mal à sua saúde.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Comer carne de porco atrapalha a cicatrização do piercing?

Qualquer pessoa que tenha colocado um piercing em seu corpo, saiu do estúdio com a recomendação expressa de evitar comer carne de porco, amendoim, chocolate, e outros alimentos ditos "remosos" ou "reimosos", para que a cicatrização ocorra sem problemas, sem infeccionar ou formar quelóides. Será verdade?

E o que são os "alimentos reimosos"? Nem todo mundo conhece o termo "reimoso". Fiz uma rápida pesquisa entre colegas de trabalho e familiares, e cheguei à conclusão que esta é uma crença predominantemente nordestina, e bastante difundida entre os estúdios de piercing e tatuagens. Eu, que sou de São Paulo, só ouvi este termo com 30 anos de idade. Meus colegas que nasceram e foram criados aqui, e no Sul do país, tampouco conheciam este termo. Mas os de origem nordestina não só conheciam bem o termo como  evitavam comer estes alimentos.

Procurei seu significado na internet onde, entre diversas explicações, encontrei que reimoso, segundo a cultura popular brasileira, é a denominação dada a alguns alimentos que "fazem mal" aos doentes. Na Wikipedia, há um artigo que diz que o termo alimento reimoso “deriva de uma expressão antiga, ligada à sabedoria popular. Ainda bastante utilizado no Nordeste brasileiro, o termo define alimentos que podem provocar inflamação na pele por reação alérgica. Também chamados de ‘alimentos carregados’, o que os reimosos costumam ter em comum é a alta concentração de proteína e gordura animal. ‘O que o povo chama de reima pode ser considerado um alergênico, que provoca reações em determinadas pessoas: coceira, diarréia e até intoxicações mais sérias em pacientes alérgicos’, afirma Maria Lúcia Barreto Sá, nutricionista da Universidade Estadual do Ceará. Quer dizer, alimentos reimosos não fazem mal a qualquer pessoa, e sim aos predispostos a terem reações alérgicas, ao contrário do que crê a sabedoria popular”.

Como eu não costumo acreditar em coisas sem alguma explicação razoável, resolvi pesquisar sobre isso. Não encontrei na literatura científica médica nada que relacionasse o consumo de determinados tipos de alimentos com a piora de qualquer cicatrização. Apenas a falta de determinados nutrientes seria capaz disso, mas não o consumo de alguns alimentos. Encontrei um artigo sobre o assunto no Blog “Mitos de Saúde”, onde há uma discussão interessante entre os visitantes e o autor.

Claro que sempre iremos ouvir alguém lamentando que comeu carne de porco após colocar um piercing, e o local inflamou, infeccionou... O mais provável é que estas reações ocorreriam seja lá qual fosse a alimentação utilizada. Mas o indivíduo certamente vai culpar o pobre suíno...
Agora, caso a pessoa realmente acredite nisso, pode ser que o problema ocorra graças ao fator psicológico (efeito placebo).

Conclusão, se você sabe que não tem alergia a carne de porco, chocolate, amendoim, camarão, etc, pode comê-los sem medo, mesmo que tenha acabado de colocar um piercing!

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